sábado, 8 de julho de 2017

As (eternas) primeiras vezes.

Deixei-te. Primeiro dia. Primeira vez. Ao fim de nove meses estava outra vez a viver uma primeira vez. Confiei, de olhos fechados, sem fazer muitas perguntas.
Entrei no carro, ouvi-a, pela primeira vez.  Rio Douro com a paisagem mais bonita que conheço de fundo. Tudo se ligava numa simbiose perfeita e eu só queria fazer repeat, à música e ao momento.
Não podia, não seria igual. Tal como seria irreal voltar a repetir algum momento dos últimos dois anos.
A música e as imagens têm essa capacidade, de nos transportar para os pensamentos, para a nostalgia. Emocionam-nos por nos fazerem lembrar de momentos, de pessoas.
Tu tens essa capacidade. És a única que me faz pensar, sentir e amar. Não há nenhum ser humano que tenha essa influência em mim. 
És a primeira. Temos muitas primeiras vezes pela frente.

"Isto é daquele amor que não tem distância. Só dor no peito, importância e substância. E o engraçado é saber que o que me cansa é dar-te a liberdade para voar e depois vir a ansiedade."


quarta-feira, 5 de abril de 2017

Dia dos filhos.

Matilde:

Continuo a escrever-te mil cartas, mesmo sabendo que nunca chegarão até ti. Todos os dias tenho pensamentos românticos sobre o futuro e quando fores mais crescida. Mais, todos os dias vejo que és (somos) mais. Mais observadora(s), mais independente(s), mais forte(s), e sobretudo, mais feliz. 
Quando te adormeço e olho para o nosso dia continuo a ter a certeza que é este o caminho. O da incerteza e imperfeição, mas é ele que nos torna tão unidas, tão próximas, tão mãe e filha. É ele que faz de ti a miúda curiosa, irrequieta e sorridente que és. É este caminho, com mais horas fora de paredes do que dentro, com mais rua e menos rotinas, com mais pessoas e menos objetos, com mais histórias reais e menos fantasias que eu sempre quis para ti, para nós. 
Ser tua mãe define o meu dia. Com menos ou mais trabalho, com menos ou mais dinheiro, será sempre este o meu papel principal. Por escolha e decisão minha. Por opção, consciente e tranquila. Por ser o melhor para ti, mas acima de tudo por ser o que me faz mais feliz. Sim, ser tua mãe é o que mais gosto de ser e fazer. Mesmo no meio do caos, é o que mais gosto de ser e fazer. 

Um xi-coração apertado,

Rita

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Drama Queen!

Aos 25 anos tenho muita sorte. Mudar de curso teve algumas desvantagens, mas de todas as coisas boas que me trouxe {e que colocam a balança da mudança no lado positivo}, o melhor foram as pessoas.
Na primeira fila, vistosa e com a vida de uma miúda de 18 anos lá estava ela. Não se calava, respondia a todas as provocações e não havia argumento que a derrubasse. Quando não tinha razão, ganhava-a com o seu sentido de humor e capacidade de sorrir para o mundo. Fechava-se na biblioteca horas a fio, e chegava sempre sorridente, ainda que atrasada, a tudo o que era sítio. Ainda hoje é assim:  uma menina, cheia de sonhos e clichés de uma mulher, que, mais do que saber o que quer, sabe o que não quer e que caminhos não seguir!
Encontrei nela a companhia e alegria quando estava sozinha. Encontrei uma amiga, não de sempre, mas para sempre, que mete qualquer um no bolso quando se trata de cuidar dos outros. É ainda mais desorganizada do que eu, confusa e frenética. Tem pilhas durável e aparenta ser durona. Digo-vos, é das pessoas mais dóceis que conheço e toda a gente consegue dar-lhe a volta.
A mim deu-me ela a volta quando decidiu trazer está pitada de loucura aos meus dias.
Chama-se Mafalda e é a minha drama queen.
Adoro-a!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Ao amor, um brinde.

Dizem os entendidos que há diversas formas de amar. Que amamos a família, os amigos e os filhos. Ainda que seja discutível, há uma verdade absoluta: o meu amor por ti. Aquele de paixão, que nos atrai e nos tira a razão. Aquele que nos deixa malucos, de sorriso pateta e de borboletas na barriga.
Não precisas que registe, que diga ou que mostre, mas este amor é mesmo assim, feito de gestos e ações inesperadas e até desnecessárias.
Apetece-me, simplesmente isso. 
Apaixonei-me pela sensualidade do teu olhar e pelo mistério do teu sorriso. Quis a natureza e a magia da genética que a {tua} filha herdasse isso de ti. Conquistaste-me com a amizade e com a força dos teus poucos, mas grandes abraços. Pediste-me a mão e eu dei-te logo o braço e, desde então vamos, pé ante pé tentando, superando e crescendo juntos.
Gosto da adrenalina dos nossos anos juntos e da serenidade que aparentamos na adversidade. Não gosto do teu egoísmo e como {ainda} somos imaturos no modo como discutimos. Sou grata por seres o meu maior confidente e por seres o meu maior pilar nos momentos chave da minha vida. Assim como tu o és, sem o demonstrar, mas és.
Não me lembro da última vez que desligamos da realidade e fomos ser só nós. Mas sei que está para breve, que, como sempre, voltaremos a ter 20 anos e viveremos a loucura da paixão. E mesmo que não esteja para breve, andaremos a viver a loucura de sermos 3 que é tão desgastante mas proporcionalmente tão bom.
Para o bem e para o mal, há uma verdade absoluta: amo-te. Nunca ficarei sem voz por gritar isto vezes sem conta, nem nunca ficarás com a caixa de mensagens inundada com declarações do meu amor. Mas amo-te, nos dias de sol, em que tudo se encontra alinhado e corre como deveria. Mas principalmente nos dias em que o tico e o teco não conjugam e os fusíveis estão extremamente avariados.  
Sei que a tua segurança nunca te permitirá duvidar, mas se algum dia os teus medos te fizerem tremer, pára, respira fundo e olha para mim. Saberás, sem ser preciso uma única palavra, aquilo que sinto por ti e aquilo que quero para nós: "e viveram felizes para sempre", mesmo que esse sempre acabe amanhã.

Ao meu amor por ti, txin-txin!


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Fotografias

Não as tenho organizadas, ínfimas são as que estão impressas. Ando tão ocupada a tentar sugar-te e que cresças devagar que me esqueço de tal coisa.
Assim como nunca me preocupei com a roupa que te vestia, ou se tinhas sopa no canto da boca enquanto comias. Pouco ou nada me preocupei com o que ficaria registado nas máquinas ou nas memórias dos outros. Desenvolvi uma veia egoísta que não tinha em mim, mas continuo convicta da minha mudança.
Não sei se terei mil vídeos para te mostrar como é [foi] ver-te crescer todos os dias e como cada coisa nova é igual a um euromilhões. Não sei se terás fotografias suficientes para dares aos teus amores ou aos amigos e amigas para se rirem. E acredito que um belo retrato de família, será [bem] complicado.
Aos olhos do mundo sou uma mãe despreocupada. Não tirei fotografias todas as semanas durante a gravidez, nem coloquei os cremes como mandam os livros. Não levei a melhor roupa para a maternidade [para mim e para ti. Se tens conjuntos como manda a tradição não é graças a mim]. O teu quarto não estava pronto no dia em que fui para a maternidade, dormiste na alcofa e num colchão durante muito tempo [Na verdade aos 9 meses num colchão voltaste a dormir e foi a melhor decisão de todas]. Voltei a maquilhar-me 4 meses depois para uma entrevista, e desde então acho que coloquei base 5 vezes para ir trabalhar. Comprei-te 2 conjuntos na vida por capricho, sendo que um deles foi para o Natal e parecia que tinha saído o euromilhões a tantas outras pessoas. Não me arrependi, mas tu nunca te lembrarás disso e pouco ou nada contribuiu para a tua felicidade.
Continuo a ser despreocupada, desleixada até, aos olhos do mundo.
Mas sabes filha, sou a melhor mãe que poderias ter. Ser mãe encaixa-me que nem uma luva. É o papel principal da minha vida, e o melhor que poderia ter. Não, não vivo só para ti. Mas és, sem sombra de dúvida, a maior razão de eu viver.
Sou mãe de colo, mimo e de noites sem dormir. Sou mãe de mãos, boca e roupa suja, que acredita que os pêlos do Benji, as folhas das ruas e as pedras do passeio são as fotografias de que necessitas para crescer bem e feliz. Sou mãe de galhofa, palhaçadas, vozes fortes e rir até não poder mais. Sou mãe de objetos que viram brinquedos e brinquedos que ganham pó de tão pouco uso. Sou mãe de teres pingo no nariz dias a fio sem um dia de quarentena. Sou mãe caseira, a favor de rotinas e mais a favor de excepções, desde que vindas de casa e a três. Sou mãe de leituras, grupos e parentalidade positiva, que acredita que em momento algum se bate numa criança. Sou mãe de limites, de poucos berros e gostaria de ser mãe de poucos não's [esta parte é tão complicada, filha!].


Para te dizer, filha, que sou mãe por instinto, de alma e coração.

Posto isto e embora te esteja a sugar até ao tutano, podes, por favor, crescer devagar?

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Viver devagar.

Avançar, devagarinho. Uma coisa de cada vez, em pezinhos de lã, sem alaridos e rodopios. Deixar entrar e entranhar as rotinas, vivê-las, apreciá-las e dar mais um passo. Desligar dos protótipos e do que projetam para nós. Fazer sacrifícios, lutar, e tentar. Dar outro passo. Mas sem culpas ou penalizações, que para isso já existem as catástrofes inesperadas.
Ver em cada situação uma oportunidade e não deixar os medos vencer. Se isso acontecer, tentar amanhã, mais uma vez. Mais um passo dado.
Não há pressas, não existe nenhum comboio ou avião para apanhar, nem o mundo acaba amanhã (até ver!).

Grão a grão, enche a galinha o papo.