Não as tenho organizadas, ínfimas são as que estão impressas. Ando tão ocupada a tentar sugar-te e que cresças devagar que me esqueço de tal coisa.
Assim como nunca me preocupei com a roupa que te vestia, ou se tinhas sopa no canto da boca enquanto comias. Pouco ou nada me preocupei com o que ficaria registado nas máquinas ou nas memórias dos outros. Desenvolvi uma veia egoísta que não tinha em mim, mas continuo convicta da minha mudança.
Não sei se terei mil vídeos para te mostrar como é [foi] ver-te crescer todos os dias e como cada coisa nova é igual a um euromilhões. Não sei se terás fotografias suficientes para dares aos teus amores ou aos amigos e amigas para se rirem. E acredito que um belo retrato de família, será [bem] complicado.
Aos olhos do mundo sou uma mãe despreocupada. Não tirei fotografias todas as semanas durante a gravidez, nem coloquei os cremes como mandam os livros. Não levei a melhor roupa para a maternidade [para mim e para ti. Se tens conjuntos como manda a tradição não é graças a mim]. O teu quarto não estava pronto no dia em que fui para a maternidade, dormiste na alcofa e num colchão durante muito tempo [Na verdade aos 9 meses num colchão voltaste a dormir e foi a melhor decisão de todas]. Voltei a maquilhar-me 4 meses depois para uma entrevista, e desde então acho que coloquei base 5 vezes para ir trabalhar. Comprei-te 2 conjuntos na vida por capricho, sendo que um deles foi para o Natal e parecia que tinha saído o euromilhões a tantas outras pessoas. Não me arrependi, mas tu nunca te lembrarás disso e pouco ou nada contribuiu para a tua felicidade.
Continuo a ser despreocupada, desleixada até, aos olhos do mundo.
Mas sabes filha, sou a melhor mãe que poderias ter. Ser mãe encaixa-me que nem uma luva. É o papel principal da minha vida, e o melhor que poderia ter. Não, não vivo só para ti. Mas és, sem sombra de dúvida, a maior razão de eu viver.

Sou mãe de colo, mimo e de noites sem dormir. Sou mãe de mãos, boca e roupa suja, que acredita que os pêlos do Benji, as folhas das ruas e as pedras do passeio são as fotografias de que necessitas para crescer bem e feliz. Sou mãe de galhofa, palhaçadas, vozes fortes e rir até não poder mais. Sou mãe de objetos que viram brinquedos e brinquedos que ganham pó de tão pouco uso. Sou mãe de teres pingo no nariz dias a fio sem um dia de quarentena. Sou mãe caseira, a favor de rotinas e mais a favor de excepções, desde que vindas de casa e a três. Sou mãe de leituras, grupos e parentalidade positiva, que acredita que em momento algum se bate numa criança. Sou mãe de limites, de poucos berros e gostaria de ser mãe de poucos não's [esta parte é tão complicada, filha!].
Para te dizer, filha, que sou mãe por instinto, de alma e coração.
Posto isto e embora te esteja a sugar até ao tutano, podes,
por favor,
crescer devagar?